quarta-feira, 11 de maio de 2016

PRECONCEITO E DISCRIMINAÇÃO



NO VERÃO de 1951 uma menina negra sentou nos degraus da Primeira Igreja Batista, no Brooklin e chorou amargamente. Ela havia tentado esfregar a negritude de sua pele até sair, mas o que havia conseguido era uma mancha vermelha, inchada, que doía. Aquele coração infantil estava angustiado por que tinha ouvido que a pele negra era uma maldição imposta por Deus a sua raça. Tinha ouvido tantas zombarias e epítetos raciais de suas coleguinhas, que exaltavam a beleza da raça branca e humilhava os negros, que ela perguntava a Deus, e tentava compreender, o que haviam feito para merecer tal castigo? Brotava um ressentimento particular contra Deus por ser negra.

Talvez pense: bobagem de uma criança! Mas pessoas cultas, pior ainda, líderes religiosos também pensavam assim. Os clérigos Robert Jamieson e David Brown, em seu comentário Bíblico asseveram: “Maldito seja Canaã” (Gn 9:25); afirmavam que esta maldição tem se cumprido na escravização dos africanos, os descendentes de Cão. Não só a escravização cumpria tal maldição Bíblica, mas que sua cor negra também; por isso os negros eram seres inferiores.

A cristandade católica acreditava piamente nessa maldição, em razão disso fechava os olhos à escravidão. No ano de 1873 o papa Pio IX deixou isso muito claro ao associar uma indulgência à oração em favor dos “desgraçados etíopes da África Central, para que o Deus Todo-Poderoso remova inteiramente a maldição de Cã de seus corações”.

Alguns seguimentos protestantes tinham a mesma visão. Nossa denominação até meados do século 20 entendia o casamento entre brancos e negros como jugo desigual; o que não é. Bem antes da cristandade, possivelmente antes de Jesus vir a terra, alguns rabinos judeus ensinavam uma história sobre a origem da pele negra; atribuindo à maldição de Cã (Cus).

Todo esse errôneo entendimento gira em torno do relato quando Noé embebedou-se e ficou nu em sua tenda; e Cã tornou isso público, enquanto seus irmãos Sem e Jafé, de costas com uma capa cobriram a nudez do pai. Noé, despertado do vinho amaldiçoou Canaã, o quarto filho de Cã, e neto de Noé, e que ele seria ‘escravo’ de seus irmãos (Gn 9:21-27).

A maldição sobre Canaã e de que se tornaria escravo de seus irmãos; provavelmente é porque ele tenha visto antes e relatado de maneira zombeteira ou maliciosa a Cã, seu pai. A punição de Cã, portanto, foi de ter um filho que veio a desonra-lo. Mas são conjecturas, pois o registro Bíblico não fornece quaisquer pormenores sobre o envolvimento de Canaã na ofensa contra Noé.

A maldição caiu sobre os Canaanitas, ou Cananeus, habitantes da Palestina, há muito extintos; portanto, não pode ser aplicada a ninguém hoje em dia. Todas as raças da humanidade, sem considerar cor ou a língua, são descendentes de um só casal. A divisão tripartida da família humana em raças Jafética, Camítica e Semítica, descendem todos de Adão, por meio de Noé.

O plano inicial de Deus era povoar toda a terra aonde os humanos viveriam para sempre, então, em sua presciência colocou os genes em Adão que viria dar condições de viverem desde as regiões mais gélidas até o grande continente africano. O tema é profundo e comporta muitas discussões; mas a miserabilidade vivida pelos africanos não pode ser atribuída a Deus ou a maldição de Noé.

A propósito: O primeiro batismo cristão após o pentecostes foi a um negro etíope, e eunuco; ficando notório que para Deus não existe essa discriminação de raça e cor; nem rejeição quanto às imperfeições humanas.


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