terça-feira, 10 de maio de 2016

SOBRE A VELHICE



ANOS ATRÁS ouvi uma dessas pregações “inspiradas” que dizia ter Deus limitado a idade do homem em 120 anos; e mais catastrófica ainda, a pregação dizia que depois Deus limitou a idade do homem em 70 anos; e quem insistisse em viver mais do que isso, só teria enfado e canseira.
No primeiro caso o pregador citava Gênesis 6:3: “os dias do homem serão cento e vinte anos” e; no segundo caso o salmo 90:10: “A duração da nossa vida é de setenta anos, alguns chegam a oitenta, o melhor deles é enfado e canseira”.
Aprendi tempos depois, que os 120 anos citados no Gênesis, pouco antes do dilúvio, não se refere a uma limitação da idade, pois o próprio Noé, sobrevivente do dilúvio, viveu 950 anos (Gn 9:29). Os 120 anos citados por Moisés, escritor do Gênesis, foi um aviso profético de que a partir daquela data a família humana teria apenas 120 anos até o dilúvio; o que de fato aconteceu, destruindo a todos; com exceção de Noé e sua família.
No caso do salmo 90:10 não era uma sentença de que o homem viveria apenas 70 anos, e quem vivesse mais só teria enfado e canseira. O escritor do Salmo foi Moisés, e ele viveu 120 anos, e a Bíblia diz que era varão vigoroso, inclusive continuou enxergando perfeitamente nessa idade (seus olhos não se escureceram) (Dt 34:7).
Por mais de 20 anos exerci um ministério voluntário com pessoas idosas impossibilitadas de congregar; eu as visitava semanalmente e dirigia um momento devocional; lendo histórias Bíblicas, outras com fundo Bíblico, e orando. Foi um tempo tão abençoado que guardo comigo algumas Bíblias de uso pessoal dada pelos filhos, à pedido dos pais quando descansaram no Senhor.
Notei neste tempo, que alguns idosos praticamente maldiziam o tempo todo; causavam desconforto à família, tornava a convivência bastante trabalhosa. Foram pessoas “educadas” em púlpitos e famílias que alimentava esse tipo de sofrimento, como se fosse uma purificação ou punição por ter passado dos setenta anos.
Outros irmãos e irmãs, apesar das limitações impostas pela idade, algumas até mesmo vítimas de doenças, eram pessoas felizes; gratas pela vida; entendiam que na sepultura ninguém louva a Deus, e que “canseira e enfado” na velhice não estavam nos planos de Deus ao criar o homem. São consequências da imperfeição herdada por causa do pecado original; resultado de escolhas feitas, desgaste físico; e este reconhecimento as tornava pessoas dóceis.
O que o salmo salienta é que a longevidade é uma mistura de bênção e dificuldades a transpor. Quem continuar lendo os salmos vai se deparar com mensagens reanimadoras, o carinho e o respeito que Deus tem pelas cãs quando no caminho do bem: “Dar-lhe ei abundância de dias, e mostrarei a minha salvação” (91:16). “Na velhice ainda darão frutos: serão viçosos e florescentes” (92:14). Hoje em dia existem muitos recursos que tornam a velhice menos “enfadonha e cansativa”.
Os que conhecem ao Senhor devem conservar um espírito jovem, uma vida saudável física e emocionalmente; boas conversações; interagindo com os jovens; participando de programas que fornecem qualidade de vida, como academias e terapias; nada de rabugice; mas com o cuidado em não se tornar ridículo, querendo parecer jovem, portando de modo inadequado para a idade.
Quanto aos que não gozam de boa saúde, à medida que entenderem que é um processo natural e começar a dar graças pelo dom da vida, e pela promessa de um novo céu e uma nova terra onde não haverá mais dor, vão se sentir bem melhor.



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